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Mostrando postagens de março, 2020

MEMÓRIAS DE UM INSONE*

MEMÓRIAS DE UM INSONE Ao me deitar à noite, exausto do dia, é só na aparência que estava só. Ela estava coladinha em mim; meu estranho amor, outrora dor, a insônia. Nas primeiras horas, durmo profundamente, mas ela me desperta para conversar, geralmente, por volta das três ou quatro da manhã. Quer falar do dia anterior, daquele filme, daquela conta, daquela bronca. Já nem lembro mais quando ela chegou. Sem bater na porta, lembro-me apenas que veio de mansinho. Disse-me que me faria companhia, que seria o meu ombro amigo, que me confortaria. A única pessoa que me escuta, quando todos estão ocupados, dormindo num silêncio sepulcral. De fato, ela é. Ela tem todo o tempo do mundo. Antes eu ficava contrariado. Lutava contra ela. Fazia o que minha mãe dizia: leia um livro nāo beba café, nāo coma muito no jantar, tome um banho morno, Leite quente faz bem. Assim, tomei o meu primeiro comprimido de RIVOTRIL, até que um dia parecia água. Quando ...

O BARCO DA PAZ*

O Barco da Paz Há muitos anos meus pais e eu fizemos um gran tour pela Europa.  Fazíamos parte de um grupo bem heterogêneo de aproximadamente quarenta e cinco pessoas, entre casais de idosos e adultos jovens e de meia idade e uma turma de adolescentes, seus filhos. Por vários motivos, o grupo não interagia entre si. Já havíamos cumprido mais de 2/3 do roteiro e apesar de tudo nada de interessante entre nós ocorria. Tudo parecia bem formal e sem graça. Num domingo de uma bela tarde de verão, enfadonhado, saí para caminhar ao longo das margens do lago de Lucerna, na Suiça. Como em qualquer lugar, a cidade estava "morta". Caminhei muito até avistar um belo barco de passeio turístico que fazia o percurso do lago de Lucerna. Pensei em fazer o passeio sozinho ou com meus pais, mas logo pensei no grupo. E se eu estendesse o convite a todos quem sabe se o grupo finalmente não interagisse? Fui informado que o preço do passeio, com jantar incluído, caia à medida que o g...

A SOLIDÃO

A SOLIDÃO Ele queria falar tudo o que sentia Ninguém o escutava. Ninguém nada dizia. Então, a saída era escrever, mas ninguém o lia. Pediu ajuda a todos, mas nem mais dos céus vinha. Silenciou-se. Sem saída, isolou-se. Desesperou-se. Perambulava a esmo, vagando alhures, de um lado para outro, em busca de um ombro amigo, qualquer um que lhe desse ouvido. Um dia, ele sumiu. Ninguém percebeu. Nunca fez falta. De repente, muito tempo depois, soube-se que havia morrido. Desconfia-se de suicídio. E aí, só murmúrios: perguntava-se o porquê. A reposta é simples: ninguém o via ninguém o escutava ninguém o lia sua presença ninguém sentia seus gritos de socorro ninguém ouvia. Ah, se tivesse sido diferente... Para o mundo,  ele simplesmente não existia. Se existisse, assim desse jeito jamais morreria. Paulo Rebelo, o escrevente do tempo.

O LIVRO

"Ando com o livro nas mãos, clareando a minha mente como se carregasse a luz de vela tremeluzindo na vasta escuridão da ignorância". Paulo Rebelo

O PREÇO DA LIBERDADE

O preço da liberdade é por um instante a vastidão do nada da alma vagando livre, mas sem rumo ou rumo incerto, à deriva, vazia. 🤔