RUBEN BERMEGUY
Eu lerei ainda! UM OU OUTRO ABISMO Eu preciso escrever um livro. Um livro que me sirva de abismo. Abismo que não tema a distância entre a palma dos pés e o tempo que resta. O meu tempo e o tempo dele. Um abismo que seja pacífico e que não tenha pressa para saltar, mas que nunca deixe de preservar o precipício. Um abismo que exista em nós. Somos, afinal – eu e o abismo – imprescindíveis um ao outro. Entre nós dois, ninguém, salvo a saudade. Sem saudade não existe abismo e sem abismo eu também não existo. Embora sobrepostos, nossa convivência, por excessiva talvez, beira a beira sinuosa dos desavisos e, para evitar uma contusão maior, é preciso elaborar o voo e aquilatar o tempo de queda. Para tanto, lançamos sobre nós um relógio feito exatamente para desmedir as horas. Um relógio que pulse em brasa todas as tempestades. Inseguros o suficiente, remamos umidamente acolá. Só depois disso, movemo-nos no ar e, reconciliando com nossa desordenada saudade, as...