A COLHEITA


A COLHEITA

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Um dia lhe sobreveio a velhice,
baixou sorrateiramente
como o breu da noite sem bater na porta,
arrebatando-lhe num solipsismo transeunte
e com ela vieram tantas lembranças de muito distante,
perdidas em algum lugar no tempo passado,
reminiscências,
que rasgavam seu pensamento 
como as estrelas cadentes do firmamento cortando os céus,
iluminando o crepúsculo da senescência,
trazendo flashes de muitas alegrias, 

longínqua melancolia,
certos mistérios no recôndito da alma envelhecida.

Então,
de sua quinta, 
no vale bucólico, 
sentado na soleira,
na implacável nostalgia,
resignado ocaso,
sereno o homem contemplava o sol 
que no fim de tarde 
placidamente mergulhava no horizonte.
Não havia mais perguntas 
tampouco desejos de respostas; 
estava tudo ali a sua frente.

Sua plantação
era tudo o que amealhara na vida;
tinha sido duramente semeada dia após dia,
sob sol e chuva inclementes
e agora saboreava o néctar,
metáfora de sua fecunda existência,
após tantas intempéries e pragas sublimadas.

Assim, são doces os frutos
dos campos viçosos e verdejantes
que agora, finalmente, colhia!

Paulo Rebelo, o médico poeta.


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