ILHA DE AÇORES

AÇORES


Ah,

Preciso escrever...

Não sei exatamente

por onde começar.


É sobre mim,

Se quiserdes ouvir,

E ao redor,

O que sinto explode em mim.


Preciso escrever

Nem que sejam

Garatujas,

Palavras pela metade,

presas na garganta,

Disartrias e dislalias.

Que querem sair

De meu peito como lavas de um vulcão em erupção.


Mas, cabem num grito, num suspiro,

Mesmo que não faça nenhum sentido.

Preciso dizer,

Então, escrevo.


Cabem num traço,

Desenhado nas areias da praia,

Debaixo de chuva.


Pois, escrevo para os mares,

Que tem grandes olhos e ouvidos 

Eles me entenderão!


Que estes apaguem minhas dores,

Sepultem em seu leito meus temores,

Que anunciem minhas esperanças,

Distante na Ilha de Açores.


Paulo Rebelo, o médico poeta.

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