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Mostrando postagens de maio, 2020

A VONTADE*

A VONTADE Assim eu me sinto: como se estivesse à beira do abismo num quarto escuro... num labirinto. Tento voar, não tenho asas. Quero ir ao fundo dos mares, não tenho guelras. Apenas vontades perdidas... Paulo Rebelo, o escrevente do tempo.

A COBRANÇA*

A COBRANÇA (ou MUITO OBRIGADO, DOUTOR!) (crônica) Por Paulo Rebelo Às vezes, é impossível para o médico descobrir a causa de uma determinada doença por mais longa a lista de exames a serem feitos. Pode ser oriunda de uma desordem genética no momento da evolução do concepto ou herança genética como a hipertensão e o diabetes ou ainda consequência de doença adquirida pela vida do indivíduo como é a cirrose hepática ou o enfisema pulmonar, decorrentes do alcoolismo e tabagismo, que ainda podem vir "enriquecidas" das idiossincrasias de cada indivíduo ou seja, da maneira como cada um reage pela doença. Atendi uma paciente na casa do 50 anos, afável, educada, cujo seu diagnóstico lhe era extremamente desfavorável: coração grande. Sentia cansaço e palpitações quando caminhava e falta de ar à noite no meio do sono. Isso estava mexendo muito com sua vida, sobretudo, psicologicamente; estava com medo de morrer. Além da mãe ter morrido de infarto do miocárdio, de estranho mesm...

A VERDADEIRA DOR*

A VERDADEIRA DOR Por Paulo Rebelo Nao é a morte nem a vida, não é o vazio nem o celestial infinito, tampouco o breu da noite ou o clarão intenso que me enlouquecem. A minha maior agonia são a incerteza, a inquietude, o relativismo do aqui e o agora, a eterna incompletude da alma, uma dor que não passa como uma ferida que arde em chamas, e que jamais cicatriza dentro de mim. Paulo Rebelo, o médico poeta. Nota do autor: o poema traduz a angústia existencial do ser humano.

CLÃS*

Às vezes, o executivo, legislativo e judiciário mais se parecem como clãs. (de harmonia não tem nada) 😜 Paulo Rebelo

AMANHECI COM MEDO

O MEDO (Amanheci com medo) Por Paulo Rebelo Amanheci com medo, medo de morrer, um estranhamento. Antes era medo de viver, de entregar-se, aventurar-se, o receio de amar e nele se perder. Agora é medo de sofrer em vão. Entre gritar e calar, há uma palavra presa na garganta, algo que nunca disse. Entre viver e morrer, há uma nova vida que jamais vivi, algo que nunca senti. Queria viver. Não quero sofrer. Amanheci com medo de morrer. Paulo Rebelo, o médico poeta. Nota do autor. Poesia extraída a partir do relato de pacientes à beira da morte e familiares durante a COVID-19.

VISITANDO O AMIGO

🖊🖊🖊 VISITANDO UM AMIGO* Por Paulo Rebelo Alô, Antonio! Acorda! Amanheceu. Sou eu, o Paulo, teu amigo. Escute, estou aqui, meu irmão. Estás bem? Tens frio? Não digas nada. Vai ficar melhor, acredite. Trouxe o edredom. As noites tem sido longas e de frio, mas vai passar. Assim é a vida, um verdadeiro mistério. Tenha fé em DEUS. Somente ELE na SUA infinita grandeza para nos confortar durante os dias de incerteza. Uma coisa é certa: o amanhã cura o hoje. Vim aqui só para te ver. Para saber se estás bem. Se estás precisando de mim, se precisas de algo. O amor cicatriza feridas, mas amizades aceleram a cura, principalmente, a nossa. Andávamos distantes um do outro. Deus já nos perdoou. ELE sabe que cada um de nós tem um caminho a seguir. Vim porque senti tua falta. De nossas longas conversas, enquanto tomávamos um café quentinho ou um bom vinho tinto, de teus conselhos, nas tuas proverbiais observações, colocações certeiras como flexas no alv...

A CHUVA DENSA*

A CHUVA DENSA A chuva desaba dos céus. Longe eu a escuto estalar sobre o calçada, ruflando entre a copa das árvores por toda a madrugada. Sussura nos meus ouvidos algo ininteligível, que me parece familiar, mas já não tenho tanta certeza. Evoca tantas memórias, e sentimentos... Arrebatado, relaxo. Não ofereço mais resistência Resto-me seduzido. Ela afaga meus cabelos, desliza suas mãos sobre meu corpo, massageia minha alma, aquieta o ego, banha-me por inteiro. Deita-se ao meu lado. Nada me pede, exceto que me cale e a escute, ela, sem dizer uma só palavra. O seu cheiro inebriante rescende por todo quarto. O forte odor da mata molhada. Meus olhos pesam. Sem perceber, meus pensamentos já vão longe carreados pela chuva e assim nela adormecem. Paulo Rebelo, o médico poeta.

IRMÃ SIAMESA*

✍ POESIA IRMÃ SIAMESA Por Paulo Rebelo Acostumei-me à tristeza. Ela está colada em mim                                         como irmã siamesa. Eis minha absurda riqueza; a felicidade em meio a tristeza. Nela há uma estranha beleza, a paz, impossível definir, com qual me identifico                                         com tanta intensidade e grandeza. Paulo Rebelo, o médico poeta.

ME TIRA DAQUI*

ME TIRA DAQUI! (quero ir embora para casa) Eu costumava atender passageiros e tripulantes estrangeiros que passavam de navio pela costa amapaense. Uma vez fui chamado à bordo para atender uma americana na casa dos 40 anos. O meu diagnóstico inicial era de abdômen agudo, provavelmente, por apendicite aguda, o que foi confirmado e assim, com sucesso, ela foi submetida à retirada do apêndice no mesmo dia por um colega cirurgião. Como tudo na época, muito foi resolvido à base de boa vontade e improvisação. Não faltou ajuda. Ocorre que o motorista da ambulância, para mostrar serviço, achou de cortar o caminho através de bairros da periferia, cujas ruas, até hoje, são esburacadas, sujas e esteticamente feias de aspecto abandonadas. O sacolejo era tamanho, causando tanto desconforto na barriga da mulher, que ela gritava muito e perguntou em inglês: "where am I, please?* E antes que eu respondesse, com dificuldade, sentou-se na maca, baixou o vidro fosco da janela e quando viu ...

MUITO PRAZER EM CONHECÊ-LO, DOUTOR!

✍ MUITO PRAZER EM CONHECÊ-LO, DOUTOR!* Texto de Paulo Rebelo Acabara de me graduar como médico. Jovem casado e com filho pequeno, precisando cuidar da família, aceitei o emprego para trabalhar num distante distrito de um município no interior da Amazônia. Finalmente, chegara a minha emancipação. Egresso de uma família remediada, nunca tinha visto tanto dinheiro na minha vida, mas jamais imaginei o que o futuro me reservara como batismo na profissão. O atendimento médico diário de segunda a sexta se resumia a um atendimento ambulatorial e cuidar de pacientes internados, geralmente, com acidentes por animais peçonhentos, malária, pressão alta, diabetes, gastroenterite e pneumonia, num pequeno e simples hospital interiorano. Todavia, parece que no interior o médico trabalha mais. Tem que fazer de tudo um pouco: da criança ao velho, passando pelo parto normal. E não pode errar. Lá quem sabe mais do que o médico é só DEUS. Os casos mais graves e raros eram transferidos de barco ...