MEMÓRIAS DE UM INSONE*
MEMÓRIAS DE UM INSONE Ao me deitar à noite, exausto do dia, é só na aparência que estava só. Ela estava coladinha em mim; meu estranho amor, outrora dor, a insônia. Nas primeiras horas, durmo profundamente, mas ela me desperta para conversar, geralmente, por volta das três ou quatro da manhã. Quer falar do dia anterior, daquele filme, daquela conta, daquela bronca. Já nem lembro mais quando ela chegou. Sem bater na porta, lembro-me apenas que veio de mansinho. Disse-me que me faria companhia, que seria o meu ombro amigo, que me confortaria. A única pessoa que me escuta, quando todos estão ocupados, dormindo num silêncio sepulcral. De fato, ela é. Ela tem todo o tempo do mundo. Antes eu ficava contrariado. Lutava contra ela. Fazia o que minha mãe dizia: leia um livro nāo beba café, nāo coma muito no jantar, tome um banho morno, Leite quente faz bem. Assim, tomei o meu primeiro comprimido de RIVOTRIL, até que um dia parecia água. Quando ...