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Mostrando postagens de agosto, 2021

ACAREAÇÃO

A ACAREAÇÃO  Crônica de Paulo Rebelo Uma das situações mais pitorescas vividas na prática médica é a presença da acompanhante do paciente na consulta, geralmente, provocada, pela sua mulher que costuma falar tudo o que está ocorrendo com o companheiro, ao contrário do homem que, com frequência, deixa de informar coisas importantes para a compreensão de seu caso. Faz parte do anedotário médico que a sua mulher está ali para "entregar o cara". Ela é uma pessoa muito importante para o sucesso do tratamento, também, só faltando dar o medicamento na boca do sujeito. Mas, às vezes, o homem ao ser "encurralado", a consulta fica mais para uma "acareação na delegacia de costumes", pois o homem passa a dar o troco na mulher, acusando-a de seus erros; o médico torna-se alí o "delegado de polícia!" Mas, de um modo geral, o balanço é positivo. Brinco dizendo que o "suspeito" é o homem e não, a mulher. Eu tive um paciente na casa dos sessenta anos qu...

A CASA*

 🌺🌺🌺 🖊️A CASA De Paulo Rebelo  Sei dos filhos que tenho e em detalhes, mas temo que não os conheça mais. Não sei por onde andam, mesmo que estejam dentro de casa, pois parecem estar distantes com um pé na estrada. Estão nos quartos, na varanda e no quintal, ora em silêncio ora em burburinho, naquilo que chamo de lar. À noite ao regressar à casa, na parede, o relógio parado numa época, retrato de um tempo a caminhar na minh' alma. Eu os reencontro no sofá da sala ou na cozinha, mas não são os mesmos daquela manhã; Algo em nós mudou para sempre. A distância que nos separa foi medida no tempo.  Há um sereno vazio que me arrebata por inteiro, pela enorme saudade que desde já sinto do que é nosso lar. Paulo Rebelo, o médico poeta. P.S. Inspirado na obra de Mia Couto, A CASA. Paulo Rebelo, o médico poeta. 💐💐💐

VILAREJO*

"O vilarejo está na minha memória. É como uma tela a ser revisitada e é isso que vejo quando volto ao lugar onde nasci. As ruas e casas com cheiros e cores falam, revivendo-me lembranças que me levam a um etéreo e tênue momento chamado minha vida". Paulo Rebelo, o médico poeta. Inspirado na obra de Mia Couto.

A CASA

A CASA De Paulo Rebelo  Sei dos filhos que tenho e em detalhes, mas temo que não os conheça mais. Não sei por onde andam, mesmo que estejam dentro de casa, pois parecem estar distantes com um pé nas ruas. Estão nos quartos, na varanda e no quintal, ora em silêncio ou burburinho, naquilo que chamo de lar. À noite ao regressar à casa, na parede, o relógio parado numa época, retrato de um tempo congelado em minha alma. Eu os reencontro no sofá, mas não são os mesmos daquela manhã; Algo em nós mudou. A distância que nos separa foi medida no tempo.  Há um sereno vazio preenchido pela saudade, que desde já sinto daquilo que é nosso lar. Paulo Rebelo, o médico poeta. Inspirado na obra de Mia Couto, A CASA. Paulo Rebelo, o médico poeta. 💐💐💐

PORTAS

PORTAS Ando com pressa  Pelos quatro  Cantos da terra À procura  Do caminho  Da satisfação pessoal, Que parece escondida Em algum lugar,  Mas só encontro portas Que se abrem  Sobre a incerteza, Detrás de outras portas. E a insatisfação Ocorre em mim, Que nem Uma necessidade De continuar Buscando uma saída Para essa incompletude Me consumindo, Que não acaba nunca, Parecendo uma sina. Paulo Rebelo, médico poeta.

ASSÉDIO

O ASSÉDIO Crônica por Paulo Rebelo  A história que passo a relatar ocorreu há trinta e cinco anos. Fazia a minha pós graduação médica em São Paulo e, na época, isso me deixou com um misto de desapontamento e raiva. Poderia ter acontecido uma tragédia pessoal, se não fosse pela obra do Espírito Santo.  Em parte, porque jovens médicos, acredite, são inocentes tal é a clausura acadêmica. Não tem a mesma vida social das demais profissões, onde certamente não há tanta rigidez estudantil. Sendo assim, eu não era diferente; era ingênuo. À noitinha, recebi um telefonema de uma grande amiga de minha tia, na casa dos quarenta anos (o dobro da minha), para que eu fosse atendê-la na sua casa num bairro distante, pois dizia estar com "pressão alta". Estranhei o convite, mas não pensei duas vezes; precisava de dinheiro, além do que alimentava minha autoestima profissional. No seu belo sobrado, lá estava um casal amigo seu dando-lhe apoio. Inicialmente, não percebi nada de errado até que já...

O PERDÃO

🖊️O PERDÃO  Crônica de Paulo Rebelo Acredite, desde muito cedo eu sabia o que queria ser quando crescesse. Nada de policial, jogador de futebol ou astronauta e sim, doutor! E isso parece que tinha uma finalidade; era o meu destino cuidar de meu pai até seus últimos dias. A primeira boa impressão me foi provocada pelo meu pediatra, o doutor Bernardo Santos. Só de ser examinado por ele, eu já parecia ficar melhor. A segunda e melhor impressão ainda ocorreu quando meu pai Evandro, vítima de infarto do miocárdio, foi muito bem tratado pelo seu médico, o doutor Franklin Albuquerque. Foi quando aprendi de perto o que é amor ao próximo dado profissionalmente. Naquele tempo, há quarenta e tantos anos, o tratamento para a sua condição consistia mais no repouso para "acelerar a cicatrização do coração". Não havia angioplastia nem cirurgia de ponte de safena, principalmente, em Belém do Pará. Todavia, sendo a família pobre à época, tudo não passava de devaneios de criança, pois nos fal...

PRETO DE ALMA BRANCA

Ah, sim, Sou preto de alma branca,  Criado à moda do Ocidente,  A partir do ILUMINISMO  E não do obscurantismo, Todavia, sujeito à inapelável Branquitude. Fui criado fora da senzala. Nasci livre. Portanto, não sei o que é ser Imolado no pelourinho E marcado com ferro em brasa Como uma propriedade Branca. Então, meu irmão Na raça negra, Não me queiras mal, Crendo que sou cativo  Do branco de outra forma. Porquanto, sinto n'alma Os teus gritos de socorro E o gemido das dores  Dos negros no cativeiro Que ecoam através dos séculos, Clamando por justiça. Assim estamos irmanados Nos nossos tempos. Paulo Rebelo, negro nascido livre.

O ORÁCULO

O ORÁCULO Eu já vivi  Cento e cinquenta anos  Na face da terra  E até deixar esse mundo  Terei vivido outros cem. Já vi de tudo o que Deus  E o diabo tinham  Para mostrar. Não, não sou adivinho Nem semideus, Creia-me. Não é nenhum delírio Nem devaneio meu. Não é soberba. É que teu destino, Antes de estar  Escrito nas estrelas, Está escrito nas tuas mãos, Na tua pele,  No teu cenho,  Nas arrítmicas batidas  De teu coração. É nesse espaço sagrado,  Misto de oráculo  E confessionário,  O consultório médico,  Que pessoas  De todas as idades, sexo,  Raças e etnias,  Credos e ideologias  Vem em busca  De alívio e cura  De seu sofrimento,  Como quem busca  O oásis no meio do deserto,  Já quase sem esperanças, Entregues, À beira do desespero, Completamente despidos  De conceitos e preconceitos  Diante da invalidez Permanente,  Da incurabilidade  Das doenças...

VIOLÊNCIA

VIOLÊNCIA  Por Paulo Rebelo Às vezes, Pergunto-me O porquê  De tanta Violência, Ora aberta Ora velada; Pura inconsequência. Não falo  Da violência  Somente física; Falo da interior Da mascarada, Que intimida O outro machuca E maltrata. Falo sobre  De onde vem  Essa fúria Verbalizada E profunda Que jaz latente No homem, Como um vulcão Inclemente Oculta. Apresenta-se Enrustida, Mas, de repente, Incontida, Explosiva. O pior de tudo, Todavia É percerber, Que haja prazer Mórbido  Num conflito, Onde possa um exercer  O poder sobre o outro, Abastecida alma À base do ódio, Violentada À base do grito. Paulo Rebelo, o médico poeta.

NOTA DE REPÚDIO

NOTA DE REPÚDIO Eu nunca havia notado que existiriam pretos e brancos como classes racial e social no Brasil, até que pretos "traumatizados racialmente" como Tais Araújo, Camila Pitanga, Karol Conká, NEGO DI, em busca de sua identidade ancestral perdida e brancos bajuladores do preto como LUCIANO HUCK e que se dizem não racistas, ditos "conscientes", buscando auto promoção na onda do POLITICAMENTE CORRETO, condenando o "racismo estrutural ou sistêmico" e "branquitude", à guisa de conscientização do povo, insistentemente, passaram a aparecer com esse discurso vergonhoso, demagógico e constrangedor de que sociedade brasileira é 100% racista, alimentando o ódio racial, evidenciando a sua completa honestidade intelectual. Paulo Rebelo

INJUSTIÇA

INJUSTIÇA Eu era feliz  E não sabia;  Não pude aproveitar  Minha vida.  Era livre  Até o dia em que morri  E, inapelavelmente Fui condenado  À eternidade, Onde preso, De lá Jamais voltaria. Verdadeira injustiça! Quem disse Que queria a vida eterna,  Minha alma penando por aí? Cruel sentença! Apenas quis eu, Nessa terra, Uma vida breve  E intensa! Paulo Rebelo, o médico poeta. P.S. Texto de fundo existencialista.

A SINA

  A SINA (Ou o canteiro de flores) Por Paulo Rebelo Aos poucos, Assim vou me acabando. O tempo desfilando Diante de meus olhos, Desafiando-me, Indiferente, Insensível Ao sofrimento Humano. Indisfarçável, Segue cursando Seu caminho De becos sem saídas E encruzilhadas Numa longa E tortuosa estrada. Às vezes, Ora sóbrio Ora insano, Empurrando-me Adiante, Numa constante. Quisera pausá-lo... Mas, não há interruptor. Nem bloqueios Não tenho o comando. Nem os arreios. Eu, Do tempo, Nunca fui senhor. É que o tempo É um inconsequente Que leva tudo consigo, A dor, O amor. Inclemente Parece ditador. O tempo Evapora a vida; É uma sina Que martiriza. Assim, Irrefreável, Que nem águas à jusante do rio, Lentamente, Escoa minha existência Por inteiro Para um dia Em meu jazigo, Quem sabe, Como piedade final, Alimentar as frágeis flores De meu modesto canteiro. Paulo Rebelo, o médico poeta.

TEMPO DE COLHEITA

  EDUCAÇÃO FAMILIAR (Tempo de Colheita) Texto de Paulo Rebelo Às vezes, algumas pessoas ao conhecer minha família, curiosas e ao mesmo tempo surpresas ou admiradas, me perguntam como eu eduquei tão bem nossos cinco filhos, encaminhando-os, três rapazes e duas moças para a medicina. Bem, a resposta não é tão simples; é longa e para respondê-la a gente precisaria se sentar numa Delicatessen e tomar um café, enquanto conversássemos sobre isso, algo que me alivia e muito me apraz. Para começar, a realização do conjunto da obra é do casal, porém 80% do feito é de minha esposa. Apraz-me porque a coisa mais calorosa que tenho é ver nossos filhos encaminhados na vida e independentes, ainda mais trabalhando todos na mesma profissão e juntos. Alívio pelo resultado, a despeito de eu não ter contribuído para isso como hão de imaginar e é sobre isso que eu gostaria de falar. A nossa conversa acabará se tornando a aceitação de um MEA CULPA e uma confidência. Não te espantes sobre o que irei te d...

O MEDO

O MEDO Por Paulo Rebelo  Um dia passei a ter medo. Nunca soube exatamente O porquê. Havia tempos que não o sentia. Não lembro claramente Em que instante surgiu E para quê. Pode ter ocorrido  Quando vim ao mundo. Lá estava eu frágil  E vulnerável. Vi o caos naquele momento; Chorei de pavor. Pela primeira vez, A dor. Não era qualquer medo. Acompanhou-me Desde então. Era um tipo intangível, Mas não era ilusão. Por certo, Inseguro, Receio do que  Haveria de experimentar  No futuro. O medo literal do escuro. Aí vem o medo do presente, Do passado  E do próximo minuto. Desde então,  Um medo atávico Passado de pai para filho, De geração em geração; O medo do palhaço, Do cachorro E do bicho papão. Tudo metáfora  Das coisas que vem E virão. Assim, Ocorre o medo viver De não viver, De adoecer, De falar, De calar, De doer, De amar, De sofrer, De dormir  E não mais acordar, O medo de morrer... A razão de tantos medos No fundo, Jamais saberão dizer; É inso...

BONSAI

Agradeço à ti pelas generosas críticas literárias de meus textos.💐 Por Paulo Rebelo "Ao escrever, fui me aprimorando com o tempo. Antes escrevia demais, isto é, "falava muito", era repetitivo e enfadonho quando me relia, com vontade de rasgar o texto e começar tudo de novo. Fui podando pacientemente meus escritos como um BONSAI.  Às vezes, revejo um poema ou poesia minha que parecia terminada, mas não, insatisfeito com o resultado, faltando algo, talvez, um pedaço de mim, que nunca esteve pronto e por certo, nunca estará, o meu eterno BONSAI". 🌾🎋🎋🌾 Paulo Rebelo, o poeta médico.

PAI & FILHO

Pai que nasceu com o filho.  Nao se esperavam.  Era como um sonho.  Ambos marinheiros  De primeira viagem.  E cresceram  Tentando se entender,  Falar um com o outro,  Romper a barreira  Da distância e silêncio... Havia um anjo:  A mãe,  Ela para mediar  As naturais dificuldades  Da vida.  Ela dizia:  Leva-o p passear,   Leva-o para nadar,  Troca a fralda,  Faz o leite... Assim ele o fez  E gostou.

ANIMAL

ANIMAL Poema de Paulo Rebelo  Às vezes,  Não desejo... Finjo, Não haver o mal Indesejável Dentro de mim. Parece Um defeito de fábrica. Uma sabotagem Ou já ter nascido  De fato, assim. Por isso, A violência gênica. Tanta inquietude, Tamanha iniquidade Em meio A certa inocência Por não ter Do mal que causei Consciência. Pareço uma coisa, No fundo, sou outra. Quero escondê-la Desvencilhar-me dela, Mas continente Lá está ela em mim Silente. O mal indelével, Discreto Escondido sob a pele, Transpirando; É minha essência, Verdadeiramente, Para demonstrar quem sou: Insondável carência. Daí, Há uma guerra interna Travada dia e noite  Que não dá trégua; Um esconde-esconde Dentro de mim. Para medir Não há régua. Nem sei por que O mal em mim existe, E resiste Quem me a ensinou? Qual a violência original? Que tinha q ser Assim, Estranhamente, Para justificar Minha existência? Parece uma cruz, Uma penitência. Assim, Temo dizer: Sou irracional, Portanto,  Imprevisível, Feroz a...

TAL PAI TAL FILHO

TAL PAI TAL FILHO Eu não sabia  Que um dia seria pai, Desembocaria tal missão, Como um soldado. Antes mesmo de nascer,  Não tendo consciência sequer De minha existência,  Já estava determinado  Que esse seria o maior  De meus papéis Em minha vida: PAI. Um dia eles nasceram  E eu maravilhado, De uma hora para outra, Amanheci desajeitado pai. Eu era como uma receita  A ser preparada. Muitas vezes testada,  Provada, Reprovada, Aperfeiçoada. Sou a imagem  De meu próprio pai. A partir de um determinado Momento, Não sei exatamente quando,  Passei a observá-lo, Tentar copiá-lo, Buscar imitá-lo, A procura de um padrão  Como é na natureza bruta, Mas é difícil superá-lo. Precisei me reinventar, Encontrar meu próprio  Caminho. Então,  Pouco a pouco  Fui amadurecendo Como uma fruta da estação. Assim, tomei consciência  E coragem; Sem sentir foram sendo  Moldadas a minha Personalidade  E caráter para ser  Etern...

O IRMÃO MAIS VELHO

A CARTA (O irmão mais velho que nunca tive) Uma vez, faz tempo, escrevi uma carta para o PAPALEO, meu colega médico e amigo de três décadas. Queria demonstrar nela  o meu apreço a sua pessoa. Escrever cartas é comigo mesmo; é um costume antigo desde a época de escola, que em tempos de internet, parece que se tornou coisa antiquada, pois o mundo agora só quer saber de mandar mensagens através de aplicativos de textos como Messenger, Whatsapp e etc, recheados de emoticons e GIFS, que vêm para traduzir breves sentimentos e palavras, parecendo ser a própria pessoa desavisada, o quanto humanidade mudou acreditando mesmo que esse tipo demonstração de reles sentimentos possam, de fato, construir algum sério relacionamento. Eu, não! Coisa à moda antiga. Eu escrevo cartas! Nessas mídias atuais, as palavras são frias, sem graça e sem vida, quase descartáveis, ora superficiais ora intempestivas e até fingidas, mas deixam quem as lê, isto é, "vê", excitadas e exaltadas, nunca serenas e a...

OS BONS COMPANHEIROS

OS BONS COMPANHEIROS Crônica de Paulo Rebelo  (A difícil relação de amor) Amigo leitor-A, tenho uma curiosa e inusitada compilação de histórias encadeadas para contar e que, talvez, queiras escutar e que guardam uma estranha semelhança entre si, cujo diagnóstico, tratamento e prognóstico fugiram completamente à minha capacidade  médica. Eis o relato que tenho a fazer: durante a minha vida médica, atendi milhares de pessoas, mas guardo, talvez, uns cinquenta casos na memória. Foram exemplos que me fizeram refletir profundamente e mudar a compreensão de minha própria vida e mundo. Não falo de casos clínicos, falo de existência humana. Há alguns anos, recebi um casal no consultório na casa dos 50 anos, ainda joviais e maduros,  mas com o cenho abatido e tenso. O homem acreditava mesmo que era cardiopata e poderia morrer subitamente. Tudo que lhe era perguntado, antes de responder, o casal se entreolhava, talvez, buscando o homem confirmação da mulher. A consulta transcorria ...

PÃE

 🌺🌺🌺 Acordei cedo, pensando no DIA DOS PAIS, buscando inspiração p escrever um texto. Vou te dizer o seguinte: o homem leva uma grande desvantagem sobre a mulher. A maternidade para a mulher começa cêdo na alma, quando ela brinca de casinha; a paternidade para muitos homens não começa nunca, infelizmente, se ele só brinca de carrinho. O HOMEM PAI  se deprecia naturalmente  ao se comparar com a MULHER MÃE de seus filhos, pois ela é, sem dúvida, quem melhor exerce o papel como guardiã da família. Então, curiosamente, mesmo no DIA DOS PAIS, a MULHER é lembrada inconscientemente. Eu quero escrever sobre o PAI que, também, sou, mas como, se a melhor imagem que vem no pensamento e no coração é a de MÃE? Bem, vou tentar.  Alguém há de dizer que esse bloqueio seria algum trauma, fruto de rejeições interiores. Não sei ao certo. Digamos novamente, que a imagem da MULHER MÃE é mais poderosa do que do HOMEM PAI, visto que tem-se milhares de exemplos da primeira e um punhado d...

ANTÍPODA

ANTÍPODA Por Paulo Rebelo Um dia, Cansado de minhas  Contradições, Quis eu ser o antípoda De mim. O meu reverso, O outro lado De meu mundo, Um outro eu Diferente de tudo Que sou, Algo que está mergulhado  Profundamente  Dentro de mim  E lá jaz latente. É um sofrimento atroz, Isso de representar  Papéis dia após dia, Repetindo um padrão Que eu mesmo repudio. Ah, Isso de querer ser  Aquilo que nunca fui, Fingir o que não sou E jamais serei, Ainda me levará a lugar  Nenhum. Paulo Rebelo, médico poeta.

RECICLÁVEL

RECICLÁVEL Um dia, Despertei e disse À mim mesmo: Nesse mundo desvairado, Recuso-me a ser Apenas mais um; Um estranho bem  De consumo. Quero fazer diferente, Quero muito mais  Do que apenas existir; Quero viver Intensamente; Ser distinto no ninho. É que não perdi o prazo De validade, Não estou eu vencido, Não sou produto descartável Que vai direto para lixo; Sou produto reciclável, Objeto não perecível. Paulo Rebelo, o médico poeta.

VALA COMUM

Um escritor sem o reconhecimento de seu público é como um indigente  enterrado numa vala comum. 💐💐💐 Paulo Rebelo

BONSAI

Agradeço à ti pelas generosas críticas literárias de meus textos.💐 Por Paulo Rebelo "Ao escrever, fui me aprimorando com o tempo. Antes escrevia demais, isto é, "falava muito", era repetitivo e enfadonho quando me relia, com vontade de rasgar o texto e começar tudo de novo. Fui podando pacientemente meus escritos como um BONSAI.  Às vezes, revejo um poema ou poesia minha que parecia terminada, mas não, insatisfeito com o resultado, faltando algo, talvez, um pedaço de mim, que nunca esteve pronto e por certo, nunca estará, o meu eterno BONSAI". 🌾🎋🎋🌾 Paulo Rebelo, o poeta médico.

O MEDO

O MEDO Por Paulo Rebelo  Um dia passei a ter medo. Nunca soube exatamente O porquê. Havia tempos que não o sentia. Não lembro claramente Em que instante surgiu E para quê. Pode ter ocorrido  Quando vim ao mundo. Lá estava eu frágil  E vulnerável. Vi o caos naquele momento; Chorei de pavor. Pela primeira vez, A dor. Não era qualquer medo. Acompanhou-me Desde então. Era um tipo intangível, Mas não era ilusão. Por certo, Inseguro, Receio do que  Haveria de experimentar  No futuro. O medo literal do escuro. Aí vem o medo do presente, Do passado  E do próximo minuto. Desde então,  Um medo atávico Passado de pai para filho, De geração em geração; O medo do palhaço, Do cachorro E do bicho papão. Tudo metáfora  Das coisas que vem E virão. Assim, Ocorre o medo viver De não viver, De adoecer, De falar, De calar, De doer, De amar, De sofrer, De dormir  E não mais acordar, O medo de morrer... A razão de tantos medos No fundo, Jamais saberão dizer; É inso...

A BUSCA

 A BUSCA Paulo Rebelo Diga-me: Por que me dói tanto a alma? O ela teria feito de mal a si mesmo Para se machucar, Para carregar tanta dor E procurar se evadir? Por que ela se esconde? Vergonha?  Desapontamento? Nunca soube; Ela nunca me diz. Percebia nela  Uma incompletude, Solidão. Uma necessidade indizível. Pudera eu fugir com ela... Mas, nós nunca nos entendemos. Dois seres dormindo  Na mesma casa  E em quartos separados. Talvez, nunca nos entendamos. Tentamos. Ela é grande demais para caber em mim. É um pesadelo! Falar com o imaterial. Sua inquietude. Estou louco, Creio eu! Vou substituir minha cabeça. Ela já se perdeu uma vez Em algum lugar no mundo Deixando-me abulico. Sumiu num piscar de olhos Projetou-se nos céus, Atirou-se no fundo do mar, Afogando-se com seus fardos  De sentimentos, À procura da razão. Paulo Rebelo, o médico poeta.

CARCERE PRIVADO*

CÁRCERE PRIVADO Poema de Paulo Rebelo  A maior prisão Está bem aqui Ao meu lado, Me asfixiando, Me torturando E me consumindo  Aos poucos. Está em mim  O meu cárcere privado; A falta de liberdade Tão íntima e atroz, Entranhada Na pele, Cujo odor rescende Ad eternum. Gostaria de ser livre, Escravo alforriado  De minha própria consciência. Dentro de mim Jaz meu maior algoz: Um incognoscível E silencioso Despota Impiedoso. Paulo Rebelo, o médico poeta.

ANDANÇAS

ANDANÇAS Por Paulo Rebelo    "Acontece Nas minhas andanças mentais Por aí, Há dias que simplesmente Vago absorto  Entre elucubrações  Da minha consciência  E tribulações da alma... Isso me faz caminhar Horas a fio Pelo mundo  Em busca  De um retiro espiritual. Nessa longa jornada Não há tristeza  Nem alegria No meu coração; Só a necessidade de quietude. O mundo parece em paz, Ao contrário de mim Em cima do andaime. Assim, sigo adiante solitário Numa inquietante E delicada sintonia Alucinante". Paulo Rebelo, o médico poeta.