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Mostrando postagens de setembro, 2021

A PAZ

  A PAZ Uma parte de mim Vive intensamente Outra parte, Apenas cumpre tabela; Parece existir assim, Passando um tempo, Às escondidas, Dentro de mim. Uma parte impulsiva Vive além das quatro linhas Do campo, Seguindo suas próprias regras, Vagando indômito por aí No próprio encanto. Uma parte Quer desistir e fugir, Outra parte, Enfrentar e lutar Rugindo até o fim. Em algum instante, Uma parte anseia morrer Para, finalmente, Encontrar a paz. Adiante, Outra parte, Nesse mundo, Apenas viver na total solitude Como livre Lhe apraz. Paulo Rebelo, o médico poeta.

O FILHO DE DEUS

  O FILHO DE DEUS (Confissões de um Médico) Home  /  CRÔNICA  / O FILHO DE DEUS (Confissões de um Médico). A caminho de casa. São 9 da noite. Estou cansado… chega por hoje. Dei de mim o que pude no consultório. Mas, nunca é o bastante, eu sei (É o que me diz a minha consciência para me atazanar). Dize-me tu, conscieência, então: o que afinal deixei de fazer? Pior, o que fiz de errado? Que sentimento horrível de culpa é esse que me impinges impiedosamente? Que mal eu fiz afinal? O que fiz para que tu, ó minha consciência me trates como réu? Por que me parece que há algo feito pela metade, que preciso refazer ou recomeçar tudo do zero, como seu eu levasse a minha vida com desídia? Não posso sequer dormir em paz E, pior, nem ter o direito de errar… Faz meia hora que rodo pela cidade vazia pela pandemia da COVID-19. Ontem, foram sete mortos. Vi pela televisão. Hoje, houve mais. É uma cidade fantasma que nem eu me sinto agora: com um deserto; um fantasma em carne e osso! ...

PAPÉIS

PAPÉIS Na vida, Dia após dia, Todos desempenham papéis; O papel de pai,  De mãe, De marido e mulher, De trabalhador E cidadão. É o médico, O serralheiro, O juiz-A, O agricultor E o carpinteiro. É o general, O marinheiro Ou o motorista, O cozinheiro, A cartomante, O administrador, O economista, A infiel amante. Uns são protagonistas, Outros coadjuvantes, Muitos meros figurantes! À exaustão, Muitos padecem. Durante o ato, Outros enloquecem... Não se descansa. Não há intervalo Entre os atos, Nem nos sonhos Nem nos pesadelos, Eis que há frustrações e desejos. São muitas apresentações, Ensaios, Muitas máscaras a colocar, Muitas encenações; São pesadas maquiagens  A fazer e a retocar. Às vezes, cansa... A peça não tem fim. 💐💐💐 Paulo Rebelo, o médico poeta.

ACABOU

ACABOU! A vida inteira  Tem sido assim; Buscar passar ao mundo  Uma imagem Do que não sou, Esconder quem realmente sou! Perder meu tempo A correr atrás  Do que um dia jamais serei, Negar o que verdadeiramente Desejei possuir. Isso é tão teatral. Basta! A peça acabou. Cansei de buscar  Provar quem sou.  A cortina baixou. Cansei de me martirizar  Pelo que fiz, Sem ter a plena consciência  Da extensão do mal que causei, Como se devesse  Satisfações a todos, Num pré-julgamento absurdo, Que não termina nunca Até o Juízo Final. Finalmente, Acabou! 💐💐💐 Paulo Rebelo, o médico poeta.

O MÉDIUM

O MÉDIUM Por Paulo Rebelo Há muitos anos, Já não sei quantos, Desde quando, Passei a sentir Coisas estranhas Como sentir que alguém, Um cliente, Meu paciente Estaria próximo de morrer. Que coisa insana! Antigos professores meus Hão de dizer: “Filho, nenhum mistério; É teu olho clínico Que explana”. Então, Sem mais nem menos Eu pensava: Onde está o Fulano? Beltrano ? Sinto falta, Estou com saudades De Sicrano! Assim, Na semana seguinte, Lá estava ele, No meu consultório, Como num passe de mágica, De minha mente, Materializado na minha frente! Alegremente, Eu o mirava, Sem desconfiar de nada, O cumprimentava Apertando a sua mão, Fitando nos olhos E o abraçava, Fraternalmente, Sentido o seu coração Que palpitava. Mas, logo em seguida, Antes mesmo do exame físico, Sem exame de laboratório, Subitamente, Tomado de profunda Resignação e tristeza, Ao sentí-lo, Certeiro, Pensava: Ele veio apenas para se despedir de mim Para me dizer ADEUS, Antes que sua alma Seja entregue a DEUS. Acredite: Um b...

QUE DOA COM MODERAÇÃO

A DOR na alma nos coze até nos transformar lentamente. Se muita, estraga; se em excesso, mata. Então: que nos doa com moderação! 🥰

BANHO MARIA

BANHO MARIA A dor Que arde no peito  Não me deixa fingir O tamanho Do abismo existente Dentro de mim. Ela vem das profundezas  De minha alma Que em fervura Num banho-maria, Cozendo-me como um todo Pouco a pouco Até me tornar de um ser outro. Paulo Rebelo, médico poeta.

OUTRA VIDA

OUTRA VIDA Um dia Acordei  Querendo ter sido Diferente.  Imaginei Que pudesse outro ser, Como se nunca tivesse existido. Insatisfeito, Como se fosse possível Mudar meu jeito  Como quem muda  De casa, Cidade, De leito. Que pudesse,  Pois Deus apagar os vestígios  De quem sou Ou fui um dia, Dado tanta dor, Tantas perdas, Feridas, Tanto sofrimento, Decepções E mentiras. Não haveria mais memórias  Para condoer-se, Das dores que sofri. Portanto, não haveria  Mais a vergonha, De lutas inglórias Que perdi. Desapareceria a tristeza, Talvez, quem sabe, Pediria a Deus apenas  Que restasse  A suave dor da saudade Que a levaria comigo Na nova chance de vida, Para a eternidade. Surgiria, então,  Uma nova criatura Sem defeitos de fabricação, Pura. Assim,  Não existiria mais EU, Haveria um outro ser. Não mais sofreria tanto. Haveria um novo código genético, Seria um como encanto. Configurada para o amor. Nasceria uma alma Já vacinada, Do peca...

O PALCO

A relação do médico com o seu paciente é assim: na platéia, o médico assiste atentamente o protagonista apresentar o seu drama; um sofrimento rico em detalhes como se estivesse atuando no palco, onde não há como não se emocionar e se envolver. ♥️🩺♥️ Paulo Rebelo, médico.

A LABUTA

 🍁🍁🍁 A LABUTA 🖊️Acordo e durmo  Pensando nas minhas irrefreáveis  Pendências pessoais e públicas,  Grandes e pequenas,  Muitos delírios, alucinações  E lucubrações  Que se acumulam Dia após dia Na minh'alma,  Colocando à prova  Toda importância de minha Breve e tênue existência.  E, nesse interregno, Sem saber exatamente o porquê, Tenho sonhos e pesadelos  Que me consomem  Num interminável banho-maria  E que ora me abalam Profundamente, Ora me embalam Docemente, Exercendo enorme pressão  Para continuar vivendo. Paulo Rebelo, o filosófico.

A CURA LITERÁRIA

A CURA E A LITERATURA (Ou A literatura Cura) Por Paulo Rebelo Alguns me perguntam,  Principalmente,  Aqueles que frequentam  O meu Consultório  Há vários anos,  De onde extraio  Tanta imaginação  E criatividade para  Compor meus singelos Poemas e poesias,  Meus contos e crônicas.  Bem, é dali mesmo. Lá é um rico celeiro  De experiências humanas  Tão reais que parecem  As minhas próprias. E, igualmente, me doem.  Assisto cerca  De sessenta pessoas,  Entre pacientes e  familiares,  Com toda sorte  De sofrimento físico  E mental  Que um ser humano  Possa experimentar  Em uma existência,  Todos os dias,  Há várias décadas.  Quem na face da terra  Teria a tanta oportunidade  De cuidar do corpo  E alma de alguém  E ainda por cima,  Para compreender  A sua dor  E a de si próprio, Como arguto observador, Freneticamente,  Buscar...

O JUIZ DE PAZ

🖋O JUIZ DE PAZ Por Paulo Rebelo Às vezes, o indivíduo cava a sua própria sepultura. Já vi isso inúmeras vezes na prática do consultório. Alguns anos atrás, ocorreu-me uma consulta médica inusitada, entre muitas que faço diariamente. Veio ao meu consultório um casal, cujo cônjuge tinha tido um infarto do miocárdio há vários meses. Quanto a isso, dentro do esperado, estava se recuperando bem. A esposa ficou na sala de espera. Estranhei sua atitude, pois nesses casos, a companheira está sempre presente na consulta. Durante o atendimento, vim a saber depois que a união dos dois estava profundamente abalada, para não dizer acabada. O complicado caso clínico inicia-se num casamento de trinta anos que desmoronou e recolhendo os cacos, o homem e a ex-mulher, incrivelmente, tentavam reatar, pois reavaliado o enorme estrago, pesados os prós e contras, às duras penas, engolindo todas as dores do mundo, os dois tentavam recomeçar a vida agora a quatro. Eu não os conhecia e me reservava à condição...

ARTE RUPESTRE

ARTE RUPESTRE Por paulo Rebelo A minha alma  Vive livre a escrever  Aquilo que poderia ser  Parente próximo   Ou distante  De poemas e poesias. Não há hora. São escritas no ar, Nas areias das praias, Nos rochedos do mar. É ociosidade, mas também, Necessidade. A minha primitiva Arte literária Assemelha-se aos pictogramas, Hieróglifos e garatujas, Brincadeiras De crianças  Ou de um Homem das Cavernas, Que está a aprender  A caminhar  Ou a falar  Os primeiros sons,  Aquilo que seriam  As primeiras palavras,  Pensamentos, Primitivos sentimentos,  Os mil tons de minha alma  Indômita e fugidia. São psicoses;  Ora há a mais pura  Inocência  Ora a mais completa Indecência. De meus delírios e alucinações  Surgem ideias absurdas  Que se transformam  Em singelas criações. A minha arte literária,  Se é que arte  Ou assim poderia chamá-la É a minha estrada,  Meu labirinto,  Me...

0 PERDÃO

🖊️O PERDÃO  Crônica de Paulo Rebelo Acredite, desde muito cedo eu sabia o que queria ser quando crescesse. Nada de policial, jogador de futebol ou astronauta e sim, doutor! E isso parece que tinha uma finalidade; era o meu destino cuidar de meu pai até seus últimos dias. A primeira boa impressão me foi provocada pelo meu pediatra, o doutor Bernardo Santos. Só de ser examinado por ele, eu já parecia ficar melhor. A segunda e melhor impressão ainda ocorreu quando meu pai Evandro, vítima de infarto do miocárdio, foi muito bem tratado pelo seu médico, o doutor Franklin Albuquerque. Foi quando aprendi de perto o que é amor ao próximo dado profissionalmente. Naquele tempo, há quarenta e tantos anos, o tratamento para a sua condição consistia mais no repouso para "acelerar a cicatrização do coração". Não havia angioplastia nem cirurgia de ponte de safena, principalmente, em Belém do Pará. Todavia, sendo a família pobre à época, tudo não passava de devaneios de criança, pois nos fal...

A ESQUERDA E A DIREITA: LADO DE UMA MESMA MOEDA

A ESQUERDA E A DIREITA: LADOS DA MESMA MOEDA. A minha sensibilidade crítica, fruto de 4O anos de medicina, vendo todo tipo de brasileiro entre a vida e a morte, me tornou um homem crítico e com direito a manifestar pensamento e opinião, afinal vivemos numa democracia e com um povo num constante processo civilizatório. A cabeça pensante é a classe média, cujo forte são acadêmicos, intelectuais, educadores, artistas e trabalhadores diferenciados e altamente qualificados e etc. Ela é o fiel da balança. Ela move a nação. De nada adianta um punhado de ricos e uma massa de pobres. Todavia, o que fazer quando a classe media está desbalanceada? Classifico a classe média brasileira em dois subgrupos: 1-DIREITA: trabalhadeira, geralmente, cômoda "alienada", indiferente às grandes questões humanitárias, "flamboyant" que não quer saber de problemas "nem entra em bola dividida". Assume que é burguesa, sim. Pacífica, é acusada erronea e maldosamente de insensível, reaci...

O XARÁ

O XARÁ Crônica de Paulo Rebelo Atendi muitos gays, homens e mulheres na vida, desde o tempo em que não havia a sigla LGBTQIA+. Na década de 80, como médico, eu os atendi no auge da epidemia da AIDS no mundo, em que essa gente sofreu enorme e duplamente: o desconhecimento científico e discriminação e assim nos aproximamos uns do outros por empatia e compaixão, pois na época, na ausência de controle com os medicamentos anti-retrovirais inexistentes, a morbimortalidade era elevadíssima; o sofrimento físico e psicológico era imenso. Jamais tive algum problema quanto ao respeito entre nós, exceto uma única vez e o caso descreverei a seguir. Era um homem, professor de filosofia, dogmático, na casa dos 35 anos, com trejeitos femininos,  maquiagem discreta e veste unissex. Estava ali para fazer exames de coração. Já no transcurso do exame de imagem, ao se dar conta de que na identificação de seu exame no monitor de TV, estava o seu mome de batismo, invocou uma lei qualquer que lhe assegura...

ATESTADO DE ÓBITO POR ANTECIPSÇÃO

ATESTADO DE ÓBITO POR ANTECIPAÇÃO. Crônica de Paulo Rebelo Ainda sou de uma época em que o médico estimava com certa convicção quanto tempo um indivíduo, diante de uma doença grave ou terminal, ainda tinha de vida. Isso não era visto pela sociedade como mera adivinhação nem apenas um palpite; era algo baseado na experiência de vida clínica do médico e era respeitada a sua opinião e se ele errasse na previsão, a sobrevivência da pessoa era vista como um "milagre". Era muito comum um paciente ser "desenganado". O que um médico dizia era quase uma sentença de morte. Ocorre que naquele tempo a medicina era antiquada e contava com tratamento à base de "ventosas"e sangrias que era a retirada de excesso de sangue ou ainda a prescrição de doces para quem estava com hepatite, acreditava-se que A. Isso era uma festa p crianças. Eu mesmo comi muita goiabada e marmelada! Muitos exames tinham uma baixa  sensibilidade e especificidade para diagnóstico de doenças que, fr...

TU SENTES?

TU SENTES?  (Texto de Paulo Rebelo)   (Numa manhã ensolarada, diante do mar, o poeta e sua musa abraçados. Num estado onírico, ao longe, ele imagina três belos deuses; o mar, o vento e o sol maravilhados pela beleza dela e nessa atmosfera, ele sussurra em seus ouvidos) Amor meu, Tu sentes o que sinto? As ondas do mar azul como um deus te observam com encanto, provocando em mim ciúmes e receio incontidos? Temo que elas te carreguem. Juras que não percebes o vento de proa, desalinhando teus longos cabelos negros? E que os matinais raios de sol maliciosamente beijam a tua pele, fingindo não te dourar ao te acariciar, levando-me aos limites de ciúmes de ti! Tu és bela; não há como evitar tal paixão, pois o teu belo sorriso monalístico te trai pelo prazer que, no momento, infinitamente, sentes pela atração que despertas nos deuses da natureza. Assim, nós nos rendemos à ti, meu amor; somos todos teus agora... (eu, a natureza aos teus pés  com o poema que ora te escrevo). Paulo ...

APRESENTAÇÃO DO SITE

APRESENTAÇÃO DO SITE AMAPAULO. amapaulo.com.br Como iniciar a leitura. Os textos foram dividos em três grandes grupos. I- As Dores da Alma: abandono, solidão, o homem diante da invalidez, incurabilidade das doenças e morte. São textos essencialmente existencialistas. II- As Dores do Corpo: relato poético e dramático dos casos clínicos que me marcaram profundamente a ponto de eu mudar como ser humano. 3-As Dores do Mundo: são assuntos polêmicos como a legalização do aborto, Ideologia de Gênero, homofobia, a descriminalização das drogas, escola sem partido, Igualdade Racial, globalização, desmatamento e poluição e etc. São temas atuais que sacodem com nossas crenças, nos fazendo conceber e mudar de opinião. Boa leitura! Paulo Rebelo

SOLIDÃO*

🖋A SOLIDÃO  A solidão  É uma viagem pessoal, Cuja dor é a companhia. É rota de fuga Num labirinto sombrio. Ocupa a existência humana Como um inquilino indesejável, Difícil de ser depejado. A solidão não aparece do nada; Aos pouco nasce Da alma exilada. Paulo Rebelo, o médico poeta.