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Mostrando postagens de janeiro, 2020

A CEGONHA

A CEGONHA Um dia ela chegou recém-nascida de surpresa em suas vidas. Havia sido abandonada duas vezes.  Estava internada pelo SUS com diarréia por rota vírus e com grave desnutrição - o temível  Marasmo-Kwashiokor. Sozinha, apenas pelos cuidados do hospital, lutava entre a vida e a morte. Foi assim que as vidas dela e do médico se cruzaram. Ele passou a se afeiçoar  por ela.  Já havia comentado sobre a condição difícil da criança com sua mulher que era pediatra.  No almoço, arriscou: "vamos adotá-la?", perguntou-lhe.  Para sua alegria, ela aceitou!  Passaram a levar o enxoval da bebê, inclusive, leite artificialmente enriquecido de proteínas e vitaminas. Depois de trinta dias,  a criança ia bem, recebeu alta melhorada,  mas ainda inspirando cuidados familiares redobrados,  quando duas assistentes sociais do governo,  rigorosamente, cumprindo a lei, levavam a RN para o abrigo. Toparam-se no corredor do hospital....

A PEQUENA PRINCESA

A PEQUENA PRINCESA 👰🧚‍♀️👰🧚‍♀️👰 Adotar conscientemente uma criança é maravilhoso, mas a adoção de surpresa é duas vezes mais bela. A adolescente tinha dado a luz à uma linda criança. Ela procurara a única médica no posto de saúde pediátrico para doar a criança, especialmente, à ela como um presente, certo de que a sua filha seria bem tratada! Devido ao burburinho no corredor, a médica teve que interromper o atendimento para para escutá-la e dissuadí-la dessa idéia que parecia absurda. Ofereceu-lhe cesta básica, toda a orientação adequada da equipe  multidisciplinar da unidade como nutricionista, vacinação, enfermeira, psicólogo, ginecologista e ela mesmo como pediatra para a recém-nascida. Todavia, a menor estava resoluta; deixou o vilarejo dela grávida sem que os país soubessem disso, numa determinada ilha do Pará e para lá voltaria "sem a barriga" e sem criança alguma. Ninguém jamais saberia da sua gravidez. O fato é que quando o esposo médico chega em casa ...

SOU FELIZ

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SOU FELIZ* Home  /  POEMA  / SOU FELIZ* SOU FELIZ Acordo num novo dia e já desperto, graças a Deus, tenho plena consciência de que ontem estive vivo e hoje, viverei mais um dia. Assim, sou feliz. Sou feliz, porque sobrevivi às minhas dores, às do mundo aos dissabores, aos desamores. Muitos dos quais apenas tolos temores. Sou feliz, apesar das privações. As provações, às vezes, pareci não suportar. Sou feliz, porque subi a montanha e lá de cima, vi o mundo com outros olhos, colorido, multiforme. Foi um longo caminho cheio de espinhos, mas tinha um pergaminho. Sou feliz, porque um dia, antes de ter morrido, finalmente, conheci o mundo, fui para outras terras, parecia o novo mundo, o outro mundo, mas com fé inabalada eu fui. Sou feliz, porque encontrei o meu amor e apesar das pedras do caminho, curiosamente, com elas mesmo construímos nosso ninho e tivemos muitos rebentos. Sou feliz, porque ocorreu o ponto de inflexão na vida pois, posso test...

CORPO CELESTE

"Uma noite cruzaste minha vida como um astro luzente cortando os céus e de repente, despencando sobre o meu coração, nesse dia este renasceu iluminado" Paulo & Bernadete ❤❤❤

AMOR VERDADEIRO*

AMOR VERDADEIRO Eu quero um amor Dito verdadeiro, diferente de tudo que existe, Um grande amor, Algo jamais ter existido na face da terra, Que jamais tenha sido vivido, Sentido, Imaginado, Sofrido. Um amor que não cabe em mim, Um amor ainda inexistente, Que está por nascer. Verdadeiramente, um dia Do tipo em que eu passarei a existir, Viver, de fato. Haverá luz, enfim. A solução para o meu medo. Pois, acabarão as incertezas, As dúvidas, Uma lacuna no meu ser a ser preenchido. Haverá um remédio para minha dor. Pela primeira vez na vida, meu coração pulsar, Calor! Ah, um amor que não existe nem nos meus sonhos, Que sequer existe nos grandes romances, Que não existe nos contos de fada, Nem vivida em mil vidas. Que é semente dentro de mim. Minha alma gêmea no ventre A ser concebida, Profundamente, Jaz adormecida em algum lugar, Todavia, jamais esquecida! Todavia, que sequer ainda germina Que o Criador ai...

TU SENTES?

(Em uma manhã ensolarada, diante do mar, o poeta e sua musa abraçados. Em um estado onírico, ao longe, ele imagina três belos deuses: o mar, o vento e o sol, maravilhados pela beleza dela. Nessa atmosfera, ele sussurra em seus ouvidos). Amor meu, Tu sentes o que sinto? As ondas do mar azul como um deus te observam com encanto, provocando em mim ciúmes e orgulho incontidos? Juras que não percebes o vento de proa desalinhando teus longos cabelos negros?  E que os matinais raios de sol maliciosamente beijam a tua pele, fingindo não te dourar ao te acariciar, levando-me aos limites de ciúmes de ti? Sim, creio que percebes.  Não negues! Tu és bela: não há como evitar tal paixão,  pois o teu belo sorriso monalístico te trai pelo prazer que, no momento,  infinitamente, sentes pela atração que despertas nos deuses da natureza. Assim, somos todos teus agora... (Eu, a natureza aos teus pés e o poema que ora te escrevo)

SONHOS

SONHOS (Conto) Eu a velava fitando o seu belo corpo  que jazia profundamente adormecido durante a madrugada e observava atentamente os movimentos rápidos e lentos de seus olhos  em busca de seus segredos, olhos que giravam furtivamente atrás de suas pálpebras cerradas, correndo como que procurando algo, os olhos do tipo que só enxergam na escuridão do inconsciente, por onde só eles caminham e veem tudo,  desfrutando de um prazer insondável,  proibido para outros. Mas, impassível, eu assistia tudo, não podendo impedir que percorressem seus sonhos desvairados, suas andanças por outras bandas que jamais pisei, nem sei onde estão, para onde ela vai  ou esteve sem naquela noite me avisar. Se eu a despertasse, perderia a última oportunidade de conhecer a realidade de seus sonhos, seus segredos! Então, por isso eu a permiti sonhar. Ao seu lado, paciente, eu observava tudo; curiosamente, ela falava coisas ininteligíveis, solilóquios a madrugada inteir...

A FORMA ORIGINAL

A FORMA ORIGINAL* Home  /  CONTO  / A FORMA ORIGINAL* A FORMA ORIGINAL Assim é o ser humano:  uma inquietante imperfeição mutante, Equilibrando-se na linha do tempo,  em cima de um cabo de aço, cujo vão é interminável Atravessando o abismo assustadoramente profundo Após muitas braçadas fortes contra a maré, Ele termina nas areias de praia, Com o seu nome nela inscrito, lembrando-lhe de quem é; um náufrago que precisa continuar a nadar. Então , ao fim da longa travessia, quando ele se olha no espelho, já não se reconhece mais;  é outro ser tão diverso na forma  que parece ser um estranho dentro de si, alguém completamente diferente em busca da forma original. Paulo Rebelo, o médico poeta.

A SUBSTITUTA

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A SUBSTITUTA* Home  /  CRÔNICA  / A SUBSTITUTA* A SUBSTITUTA Por Paulo Rebelo Atendi uma mulher na casa dos sessenta e cinco anos. Tinha uma aparência fragilizada. Guardava ainda traços de rara beleza cabocla. Falava pouco sobre si. Estava pálida, a pele seca e sem vida. Dava muita ênfase ao que sentia, motivo de sua ida ao meu consultório. Queixava-se de muitos sintomas desconexos. De verdadeiro mesmo, a artrose, a pressão alta, a gastrite, a insônia e a ansiedade. Relatava uma dor no peito que lhe incomodava há muitos meses. Às vezes, de repente, perdia a visão, o rosto parecia paralisar, a cabeça pesava e girava e o que era um cenário de terror para ela: o braço esquerdo estava pesado, fraco e dormente. O seu diagnóstico, segundo ela mesma: “derrame” e “problemas no coração”. A tomografia do crânio e radiografia do peito, bem como os exames de laboratórios, eram normais. Assim, havia uma grande discrepância entre o que ela sentia o que exis...

A COLHEITA

A COLHEITA Home  /  POEMA  / A COLHEITA* Um dia lhe sobreveio a velhice, baixou sorrateiramente como o breu da noite sem bater na porta, arrebatando-lhe num solipsismo transeunte e com ela vieram tantas lembranças de muito distante, perdidas em algum lugar no tempo passado, reminiscências, que rasgavam seu pensamento  como as estrelas cadentes do firmamento cortando os céus, iluminando o crepúsculo da senescência, trazendo flashes de muitas alegrias,  longínqua melancolia, certos mistérios no recôndito da alma envelhecida. Então, de sua quinta,  no vale bucólico,  sentado na soleira, na implacável nostalgia, resignado ocaso, sereno o homem contemplava o sol  que no fim de tarde  placidamente mergulhava no horizonte. Não havia mais perguntas  tampouco desejos de respostas;  estava tudo ali a sua frente. Sua plantação era tudo o que amealhara na vida; tinha sido duramente semeada d...

ANO NOVO

ANO NOVO Que venha você, ANO NOVO, para alegra-me, recomeçar, terminar o que deixei pela metade. Para amar mais o próximo! Que venha você, ANO NOVO, perdoar-me pelos males que causei, da conta que não paguei. Para livrar-me de meus pecados, curar as minhas dores e as chagas do mundo, de minhas inseguranças, do meu medo do amanhã,  injetando-me a dose certa de confiança,  enchendo-me de esperança e otimismo,  livrando-me de vez do pessimismo que me ronda. Que venha você, ANO NOVO, lavar minha alma, livrando-me da escuridão, para expurgar a avareza, inveja e ganância de mim, enxugar minhas lágrimas. Para impedir-me de mentir, de pecar, magoar, manter o equilíbrio diante das falsas acusações, da calúnia, injúrias e difamação, perdoar-me das muitas vezes que fui incompreensível e virei as costas a outrem. de desejar o que não devo de minha indiferença à dor alheia. Que venha, você, ANO NOVO!   MOSTRA-ME A LUZ! Restorai ...

CASO CLÍNICO DIFÍCIL

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UM CASO CLÍNICO DIFÍCIL Home  /  CRÔNICA  / UM CASO CLÍNICO DIFÍCIL A idosa internou por infecção urinária e diabetes. Logo a infecção foi debelada, mas o diabetes continuou fora de controle. Curiosamente, a glicemia ficava controlada durante o dia, em seguida, para descontrolar à noite e pela madrugada. Algo não batia. Era uma incógnita. O médico aprofundou a anamnese, uma forma essencial de “inquérito” médico. A relação entre a matriarca e as filhas era aparentemente normal, porém dado à personalidade da paciente, estava mais para medo de contrariá-la do que respeito; eram mais submissas bem além de atenciosas e carinhosas. O “casamento ” entre familiares e o médico já se desgastava pelo caso clínico difícil e cobrança mútua que faziam. Mas, o médico se matinha firme nas suas convicções e as mulheres evitavam o contato olho no olho com ele. O mistério continuava até que uma das filhas, indignada com a cumplicidade das demais, disse: “o senhor não te...