A FUGA

A FUGA

Por Paulo Rebelo 


Eu fugi,

Não nego.

E muitas vezes,

Chorei como criança 

Desamparada,

Órfã. 

Não tendo um lugar

Na terra

Para onde ir.

Pedi ajuda 

Que caía no silêncio.

Desisti.


Não era uma fuga

Como outra qualquer;

Era uma fuga diferente;

Fugia de mim mesmo.

Já sentiste isso?

Sumir de si?

Estranho recomeço.


No início tive medo, sim.

Visto que 

Esse auto degredo 

É um esconderijo 

Que acomoda, 

Todavia isola,

O flagelado.


Então, reflexo das dúvidas...

E eram tantas 

E de toda sorte acumuladas

Ao longo de toda

Uma existência,

Junto com incertezas 

E, fatalmente, 

Tornei-me a própria 

Insegurança ambulante, 

Do tipo paralisante,

Que provoca insônia,

Anorexia, 

Agitação e abulia;

O medo de errar,

Falhar,

Frustrar-me de novo,

Me desapontar,

Me desiludir com o amor,

Ou ainda,

Morrer em vão;

No obituário do jornal 

Na manhã seguinte, 

Meu nome:


"Aqui jaz um homem que não cumpriu nem metade do que poderia ter feito".


Uma espécie de morto-vivo, 

As centenas de milhares 

Que estão por aí; 

Uma espécie de limbo 

Das almas na terra.


Aí reside o meu pavor: 

Ser portador 

Da mais profunda 

Doença existencial:

A dor indolor da alma

Que nos sepulta aos poucos

Como num redemoinho 

Para o fundo do poço.


Eis, então, 

Que fugi de vergonha

E do constrangimento, 

Quando confrontado 

Com a MINHA realidade,

Sucumbi...


Eu te pergunto:

É feio um homem revelar 

Seus fantasmas 

E que tem medo 

De seu passado? 

De seu presente?

De seu futuro? 

São meras lucubraçoes

Ou alucinações?

E revelar suas fragilidades 

E Defeitos?

Para mim, no início, sim; 

Agora não mais!

Resolvi tirar 

A máscara teatral.

Não tenho mais medo

De mim.

Perdi o pudor.


Para muitos

Não deveria nem se admitir 

Tal hipótese,

Pois isso tornaria 

O homem vulnerável,

Alvo e refém de seus inimigos 

E o pior, 

Acuado 

E pusilânime.

Não, eu diria mais HUMANO!

Todavia, eu os entendo;

Viver é erroneamente 

Uma estratégia de guerra, 

Onde todos estarão 

Mortos um dia; 

A perturbadora

Realidade:


O surrealismo de quem vence 

E morre melhor 

É quem morre por último, 

Pois, é patético; 

Assistiria morbidamente 

A morte dos primeiros. 

"A estranha alegria pelo infortúnio alheio".

É o que ocorre 

Em muitos funerais,

Meramente,

Protocolares.

O meu não será assim!


Cansei de chorar 

Às escondidas, 

Orar a DEUS 

Sem fervor

E tomar maracujina!


O que não quero 

Nunca mais 

É deixar 

De amar 

E ser amado 

Pelas pessoas 

Que mais prezo 

Ao meu lado.

Sobretudo,

Amar a mim mesmo.

A maior das filosofias 

De vida.

É simples!


Tu hás de me perguntar 

Onde estive eu

Todo esse tempo(?).

Em ponto morto, 

eu te direi!

Não quero morrer irrealizado.


Eu quero ir 

À lua para ver 

O mundo là de cima,

O quão mais lindos 

Todos somos ainda! 


Paulo Rebelo, médico poeta!

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